sábado, 5 de novembro de 2011

Keep The Faith e a necessidade de renovação
“A banda que não se renova, morre” – Henrique Portugal (tecladista do Skank).

Há umas 2, 3 semanas atrás, estava em um pub assistindo uma banda de pop-rock tocar. Na sua apresentação (em forma de texto no site do pub), eles afirmavam ser uma banda que tocava os clássicos “não-convencionais”, tornando o show cheio de momentos inesperados. E de fato foi inesperado quando o baixista começou a tocar um riff inconfundível para qualquer fã de Bon Jovi.

Minha irmã e a amiga dela, ao perceberem que eu reconheci a canção, me perguntaram qual era. Respondi: “essa é Keep The Faith”. A amiga dela então teceu o seguinte comentário: “nossa, que diferente”. 
 
Diferença. Essa palavrinha que pode denotar diversas coisas, sejam elas boas ou ruins. A amiga da minha irmã estava certa ao afirmar que Keep The Faith possui uma idéia diferente, especialmente quando posta lado a lado com You Give Love a Bad Name (também tocada pela banda naquele dia – 2x Bon Jovi e Guns’n Roses). A idéia do primeiro single do álbum de mesmo nome era exatamente diferenciar o Bon Jovi do início dos anos 90 da banda da década anterior.
O Bon Jovi de Slippery e New Jersey, sem dúvida, foi triunfante. Mais de 300 apresentações, canções diversas tocando nas rádios. Cabelos grandes, roupas de jeans rasgado, estilo semelhante ao das principais bandas que chamavam a atenção dos jovens norte-americanos, especialmente as de Glam Metal. Canções sobre sexo, amor, fama e dinheiro deu corpo a bandas como Motley Crue, Poison, Hanoi Rocks e outros. Para dar o argumento final de que o Bon Jovi era mais um pertencente a esse grupo, às principais cenas do Glam Metal (ou Glam Rock, como preferir) era Los Angeles e New York. New Jersey, como sabemos, é bem ali do lado da segunda.
 
 
Mas, de repente, o tempo passou. A euforia, extravagância dos anos 80, junto com a sensação de que tudo era possível e que a tríade sexo – drogas – rock’n roll era o suficiente para dar harmonia e alegria a todos, desapareceu e saiu do mapa. Os Estados Unidos, e junto com eles toda a cena musical mundial, foi seduzida por outra concepção de vida e de canções, conhecida hoje como a “revolução de Seattle”. Bandas como Stone Temple Pilots, Pearl Jam, Hole, Soundgarden, Alice in Chains e o principal nome do grunge – Nirvana – mostraram uma faceta densa, pesada, tomada pelos sentimentos depressivos da juventude. A angústia trazida pelas dificuldades econômicas do final do período Reagan. O abandono do colorido para o uso de tons cinzas, escuros, carregados. Como disse alguém que não vou me lembrar o nome (mas estão aqui os “créditos honrosos”), o grunge mostrou para o mundo que os jovens eram infelizes. 
 
Diante de tal mudança de contexto, o que fazer? O Bon Jovi vinha de 4 anos de sucesso absoluto, se tornando um dos principais nomes de um movimento, uma visão de mundo, que foi totalmente pulverizada. O grunge parecia influenciar todos os segmentos do rock de alguma maneira, pois mesmo que algumas bandas não adotem o estilo carregado, outros aspectos como mudanças de visual, letras de teor apocalíptico e o uso de ironias e sarcasmo foram adotados por bandas das mais diferentes trajetórias (um bom exemplo disso é o álbum Achtung Baby, do U2).
Algumas bandas preferiram não mudar. Outras decidiram se adaptar aos novos tempos. E o Bon Jovi adotou a segunda opção, e deixou claro pra todos logo no início do vídeo de Keep The Faith, apresentando um John de cabelos curtos, de mudança no vestuário. No álbum, temos pérolas como Dry County, uma espécie de reflexão sobre o mundo ao redor que não teria sido possível em qualquer outro período da banda (com a óbvia exceção de These Days, álbum que se encontra no mesmo contexto daquele).
Os temas de amor persistem, é claro, mas toda a sonoridade do álbum é mais densa, mais carregada, um pouco mais pesada. Na batalha entre não mudar e seguir os rumos dos novos tempos, o Bon Jovi decidiu seguir o segundo caminho.
Isso não significa, contudo, que as pessoas possam dizer aquela frase que os puritanos adoram dizer – “O Bon Jovi se vendeu”. Para mostrar a falsidade dessa argumentação, permitam-me utilizar um exemplo bastante atual: Justin Bieber. Justin se popularizou com um conjunto de canções que fazem parte do universo de adolescentes, em especial o público feminino. Daqui a dez anos, esse público estará adulto, e com a idade vem gostos e prioridades diferentes. Hoje Justin está no topo da carreira, mas para se manter vai ter que introduzir mudanças na sua composição em breve, não só para acompanhar o crescimento de suas fãs, mas também para tentar abarcar um público maior. Todo mundo que vive de música precisa mudar. O Bon Jovi, felizmente, entendeu isso e mudou no início dos anos 90, e mudou de novo no início dos anos 00 (escrevi três textos sobre isso, inclusive, dá uma olhada lá!). Diante desses fatos, a frase de Henrique Portugal nunca soou tão verdadeira.
 
 

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